terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Lula promete a sindicalistas mínimo de R$ 465 e falar com banqueiros sobre redução de juros

Depois de quase três horas de reunião com representantes de seis centrais sindicais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu para os sindicalistas manter o reajuste do salário mínimo em 5,7% , que passaria a valer R$ 465 a partir de 1º de fevereirio. Segundo os sindicalistas, o presidente também decidiu convidar para uma reunião a ser realizada na próxima quarta-feira (21) donos de bancos privados e representantes dos bancos públicos.

De acordo com os líderes sindicais, Lula vai pedir aos banqueiros a redução do spread bancário (diferença entre o percentual que o banco paga ao cliente investidor e o que o cliente paga pelo empréstimo) e ainda tentar discutir alternativas para a redução dos juros cobrados nos empréstimos.

Os líderes sindicais defenderam junto ao presidente a redução imediata da taxa básica de juros em até 2,5%. No entanto, Lula evitou emitir opinião sobre o assunto que será decidido na próxima reunião do Comitê de Política EconÃ?mica (Copom) do Banco Central, que terá início amanhã (20), com previsão de término na próxima quarta-feira (21).

“Quarta-feira será o primeiro teste do governo. Se a redução for acima de 1% estamos satisfeitos”, disse o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força. “Lula disse que essa [a questão do spread] é uma das questões mais importantes para se discutir nesse momento, porque o problema do Brasil é crédito e o dinheiro, do jeito que está caro, não pode ser mantido”, disse Paulinho da Força.

Os sindicalistas reclamaram com o presidente que o spread do Banco do Brasil é o mais alto do sistema financeiro nacional. Na última semana de dezembro, por exemplo, o spread praticado pelo banco público foi de 25,9%. Houve bancos privados que mantiveram essa diferença em 15%. “Mostramos esse quadro ao presidente e ele se mostrou indignado”, destacou AntÃ?nio Neto, presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil.

De acordo com os sindicalistas, Lula se mostrou surpreso com os números do desemprego no país registrados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados e divulgados hoje, pelo Ministério do Trabalho.

O Caged registrou o fechamento de 654 mil postos de trabalho, mais que o dobro da média normalmente registrada para o mês de dezembro, de 300 mil demissões. “O presidente Lula não esperava um número tão alto. Ele se mostrou muito assustado”, disse José Gabriel dos Santos, diretor da área industrial da Nova Central de Trabalhadores do Brasil (NCTB).

O presidente Lula, de acordo com os líderes sindicais, disse que deve anunciar nos próximos dias um novo pacote de medidas de isenção fiscal para o setor de construção civil, um dos que mais emprega no país.

Os detalhes desse pacote não foram revelados pelo presidente durante a reunião, mas de acordo com José Gabriel dos Santos, Lula considerou o setor estratégico para conter a onda de demissões devido a crise financeira internacional. O governo já sinalizou que até o final do mês vai anunciar mais medidas para conter os impactos da crise.

Dentre as reivindicações apresentadas pelos sindicalistas está a de que o governo exija um compromisso manutenção dos empregos por parte das empresas que recebem financiamento público e benefícios fiscais. “O ministro Mantega fez esmola com o chapéu dos outros. Deu a desoneração fiscal para as montadoras e no outro dia elas começaram a demitir”, disse Paulinho da Força.

Segundo o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) Artur Henrique dos Santos, o presidente Lula se mostrou favorável a que os bancos públicos ofereçam melhores condições nos empréstimos para os empresários que se comprometam em não demitir. É uma proposta que não pune quem demitiu, mas dá vantagens para quem não demitir”, afirmou.

20/01/09
Da Agência Brasil

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Governo pretende tomar medidas contra o desemprego

O ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, disse nesta terça-feira (13), após se reunir por mais de uma hora com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o volume de desemprego de dezembro deve ser muito superior à média histórica e que o governo está preocupado com a questão. O ministro revelou ainda que estuda uma medida jurídica para atrelar os novos financiamentos públicos para as empresas à garantia de empregos.

Lula queria saber se Lupi já tinha um balanço do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged) de dezembro. O ministro informou ao presidente que só teria essas informações na próxima segunda-feira (19), mas fez uma previsão pessimista sobre o resultado. “Normalmente, dezembro tem uma média negativa de 300 mil demissões, mas dessa vez deve ser um número muito maior, por conta da crise”, disse o ministro.

Segundo ele, o presidente vai aguardar os resultados oficiais do Caged para tomar novas medidas que possam garantir o nível de emprego ou pelo menos a renda dos trabalhadores demitidos em massa por alguns setores. Uma saída, segundo Lupi, seria aumentar o número de parcelas do seguro desemprego. “Mas isso tem que ser analisado segmento por segmento. Tem que ver onde há desemprego contínuo”, explicou.

Lupi fez questão de salientar que, apesar da queda de dezembro, o emprego deve fechar com saldo positivo o ano. “O mundo inteiro está sofrendo com o desemprego. Nos Estados Unidos, por exemplo, anunciaram mais de 2 milhões de desempregos. Mas, nós no Brasil ainda vamos fechar o ano com saldo positivo, isso é muito importante”, argumentou.

Outra medida em estudo no Ministério do Trabalho é encontrar uma fórmula jurídica de obrigar que as empresas que assinarem financiamentos com instituições financeiras públicas garantam o emprego dos trabalhadores. “Ainda não encontramos uma fórmula jurídica para isso. Mas, eu penso que vamos encontrar um caminho para isso”, comentou Lupi.

Segundo ele, a proposta só vale para novos financiamentos. O que já foi contratado junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Banco do Brasil ou Caixa Econômica Federal (CEF) não sofreria alterações e os empresários não precisariam dar garantias de emprego. “Eu contei a ideia de forma geral para o presidente”, disse Lupi.

Demissões no setor automobilístico

O ministro voltou a reclamar das demissões no setor automobilístico. Ele classificou a decisão das empresas do setor como “um absurdo”. “São precipitadas as demissões. Não acho coerente. Eu estou analisando se vou pedir a prorrogação da redução de IPI para os carros. Eu já havia defendido isso”, disse o ministro.

Nesta terça-feira, a GM anunciou a demissão de mais de 700 empregados em São José dos Campos.

Previsão

Mesmo esperando um péssimo resultado para o emprego em dezembro do ano passado, Lupi disse que está otimista em relação a 2009. Segundo ele, em janeiro e fevereiro o Caged ainda deve apresentar resultados ruins, mas a partir de março a geração de emprego no país voltaria a crescer.

“Eu ainda mantenho minha previsão de geração de 1,5 milhão de novos empregos formais em 2009. Teremos um período ruim em janeiro e fevereiro e vamos voltar a crescer em março”, salientou.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A crise em desdobramento e a relevância de Marx

Artigo de István Mészáros [*]
Alguns de vocês talvez tenham estado presentes na nossa reunião de
Maio deste ano neste edifício, quando recordei o que havia dito a Lucien
Goldman, em Paris, poucos meses antes do histórico Maio de 1968 francês.
Em contraste com a perspectiva então prevalecente do "capitalismo
organizado", que se supunha ter deixado para trás com êxito o estágio da
"crise do capitalismo" – uma visão fortemente asseverada por Marcuse e
nessa época também partilhada pelo meu querido amigo Lucien Goldman –
insisti no facto de que, em comparação com a crise em que estamos
realmente a entrar, "a Grande Crise Económica Mundial de 1929-1933" se
parecer com "uma festa no salão de chá do vigário".
Nas últimas semanas vocês tiveram uma antevisão do que eu tinha em mente.
Mas apenas uma antevisão, porque a crise estrutural do sistema do capital
como um todo, a qual estamos a experimentar na nossa época numa escala
de era, está destinada a ficar consideravelmente pior. Ela tornar-se-á na
devida altura muito mais profunda, no sentido de invadir não apenas o mundo
das finanças globais mais ou menos parasitárias como todos os domínios da
nossa vida social, económica e cultural.
A questão óbvia que devemos agora tratar refere-se à natureza da crise global
em desdobramento e as condições necessárias para a sua solução factível.
A CONFIANÇA E A FALTA DELA
Se tentarem recordar o que foi infindavelmente repetido nas últimas duas
semanas acerca da crise actual, há uma palavra que se destaca,
ensombrando todos os demais diagnósticos apregoados e os remédios
correspondentes. Essa palavra é confiança. Se ganhássemos uma nota de
dez libras por cada vez que esta palavra mágica foi oferecida para consumo
público nas últimas duas semanas em todo o mundo, sem mencionar a sua
continuada reafirmação desde então, estaríamos todos milionários. O nosso
único problema seria então o que fazer com os nossos milhões subitamente
adquiridos. Pois nenhum dos nossos bancos, nem mesmo os nossos bancos
nacionalizados recentemente – nacionalizados ao custo considerável de não
menos do que dois terços dos seus activos de capital – poderia fornecer a
lendária "confiança" necessária ao depósito ou ao investimento seguro.
Até o nosso primeiro-ministro, Gordon Brown, nos apresentou na semana
passada a frase memorável "Confiança é a coisa mais preciosa". Conheço a
2
cantiga – e provavelmente a maioria de nós também a conhece – que nos diz
que: "O amor é a coisa mais preciosa". Mas a confiança no sistema bancário
capitalista ser a coisa mais preciosa?! Tal sugestão é absolutamente perversa!
No entanto, a advocacia deste remédio mágico parece agora ser universal. A
palavra é repetida com tamanha convicção como se a "confiança" pudesse
simplesmente chover do céu ou crescer em grande abundância em árvores
financeiras "capitalistamente" bem adubadas.
Há três dias atrás (a 18 de Outubro) o programa da BBC das manhãs de
domingo – o programa Andrew Marr – entrevistou um eminente cavalheiro
idoso, Sir Brian Pitman, o qual foi apresentado como o antigo Chefe do
negócio bancário do Lloyd's. Eles não disseram quando ele liderou aquela
organização, mas o modo como falou logo o tornou claro. Pois transpirou
através das suas respostas respeitosamente recebidas que ele deve ter sido o
Chefe do Lloyd's Bank bem antes da Crise Económica Mundial de 1929-33.
Consequentemente, para encorajar os telespectadores, ele apresentou uma
grande inovação conceptual no discurso da confiança ao dizer que as nossas
perturbações eram todas elas devidas a alguma "Super-confiança". E
imediatamente demonstrou também o significado de "Super-confiança", ao
afirmar, mais de uma vez naquela curta entrevista, que não pode haver
problemas sérios hoje, porque o mercado sempre toma conta de tudo, mesmo
que por vezes ele vá inesperadamente muito abaixo. Posteriormente ele
sempre sobe outra vez. De modo que ele também fará isso desta vez, e subirá
infalivelmente repetidas vezes no futuro. A crise actual não deveria ser
exagerada, disse ele, porque é muito menos séria hoje do que a que
experimentámos em 1974. Pois em 1974 tivemos uma semana de três dias de
trabalho na Grã-Bretanha [ainda que em nenhum outro lugar] e agora não
temos isso. Temos? E quem poderia argumentar contra aquele facto
irrefutável?
A TRÍADE PSEUDO-HEGELIANA
Assim, temos agora a palavra mágica explicativa para todas as nossas
perturbações não a apresentar-se como um órfão infeliz, solitário, mas como
parte de algo como uma tríade "fukuyamizada" pseudo-hegelina: confiança –
falta de confiança e super-confiança. O único constituinte que falta neste
discurso mágico explicativo é agora o fundamento real do nosso perigoso
sistema de banca e seguros que opera no terreno dos truques de confiança
em proveito próprio que mais cedo ou mais tarde estão destinados a serem (e
de tempos em tempos realmente têm sido) descobertos.
De qualquer forma, toda esta conversa acerca das virtudes absolutas da
confiança na administração económica capitalista assemelha-se muito à
explicação oferecida pela mitologia indiana acerca da base de suporte do
universo. Pois naquela antiga visão do mundo dizia-se que o universo era
carregado, muito reconfortantemente, sobre as costas de elefantes. E os
3
poderosos elefantes?, você poderia perguntar. Ninguém pensaria que isso
fosse uma dificuldade. Pois os elefantes são, ainda mais reconfortantemente,
suportados nas costas da tartaruga cósmica. Mas, e quanto à própria tartaruga
cósmica? Não é suposto que pergunte tal questão, para que não sirva de
alimento aos tigres de Bengala, antes de eles serem extintos.
Felizmente, talvez (?), The Economist é um bocadinho mais realista na sua
avaliação da situação.
No contexto deste nosso assunto penoso, a agora reconhecida pioria da crise
económica, vou apresentar-lhes citações exactas, incluindo alguns números
malditos de fracassos capitalistas que já não são negáveis, retirados
principalmente de publicações bem estabelecidas e com uma consciência de
classe desavergonhadamente burguesa como The Economist e The Sunday
Times. Vamos citá-las meticulosamente, palavra por palavra, não só porque
elas são eminentes no seu campo como também a fim de evitar que nos
acusem de "viés e distorção de esquerda".
Marx costumava dizer que nas páginas de The Economist a classe dominante
estava a "conversar consigo própria". As coisas mudaram um pouco desde
aquele tempo. Pois agora até mesmo no campo especializado da "perícia
económica" a classe dominante precisa de um órgão de propaganda de
circulação em massa, com o objectivo da mistificação geral. No tempo em que
Marx viveu a classe dominante estava cheia de "confiança", e também de um
grande bocado de "super-confiança" incontestada, para necessitar disso.
Assim, sob as menos arrogantes circunstâncias actuais, o semanário de
distribuição em massa com sede em Londres, The Economist, – o farisaico
porta-voz do anual "Davos Jamboree" dominado pelos EUA – é cauteloso ao
conceder que a crise que estamos a enfrentar hoje refere-se às dificuldades de
"Salvar o sistema", conforme a sua capa do número de 11 de Outubro de
2008.
Podemos admitir, naturalmente, que nada menos do que "salvar o sistema" (ou
não) é o que está em causa no nosso tempo, mesmo que a discussão de The
Economist deste problema seja um tanto estranha e contraditória. Pois no seu
modo habitual de tentar apresentar a sua posição altamente partidária como
uma visão objectivamente "equilibrada", utilizando a fórmula do "por um lado
isto e por outro lado aquilo", o The Economist sempre consegue atingir a sua
desejada conclusão em favor da ordem estabelecida. Assim, também nesta
ocasião, The Economist assevera no seu artigo principal de 11 de Outubro que
"Esta semana assistiu-se ao primeiro vislumbre de uma resposta global
abrangente para o fosso da confiança ". Agora, felizmente, espera-se que o
"fosso da confiança", embora reprovável em si próprio, se remedeie graças a
uma algo misteriosa "resposta global abrangente".
Ao mesmo tempo, no lado mais realista, o semanário londrino também
reconhece no mesmo editorial que
4
"O dano para a economia real está a tornar-se aparente. Na América o crédito
ao consumidor está agora a contrair-se, e cerca de 150 mil americanos
perderam os seus empregos em Setembro, o máximo desde 2003. Algumas
indústrias estão seriamente prejudicadas: as vendas de carros estão no seu
mais baixo nível em 16 anos pois os aspirantes a compradores são incapazes
de obter crédito. A General Motors fechou temporariamente algumas das suas
fábricas na Europa. Por todo o globo indicadores prospectivos, como
inquéritos de compras junto a administradores, estão horrivelmente sombrios".
Eles não dizem, contudo, que "o fosso da confiança" pode ter algo a ver com
tais factos.
Naturalmente, a defesa do sistema deve prevalecer em cada artigo, mesmo se
esta tiver de ser apresentada com a expressão inquestionável de visão
pragmática. Neste sentido, "salvar o sistema" para The Economist equivale à
identificação totalmente acrítica da revista com a operação de resgate
económico ilimitado, e a advocacia incontestável dos mesmo, – a ser cumprida
sem quaisquer meios que se afastem dos habitualmente mais dogmaticamente
glorificados "recursos do mercado" – em favor do perturbado sistema
capitalista. Assim, mesmo os mais queridos e bem testados dogmas da
propaganda (de um não só não existente livre mercado, que na realidade
nunca existiu) podem agora ser atirados borda fora pela nobre causa de
"Salvar o sistema". Consequentemente, conta-nos The Economist que
"A economia mundial está claramente com um aspecto fraco, mas ela poderia
ficar um bocado pior. Este é o momento de colocar dogma e política de lado e
concentrar em respostas pragmáticas. Isto significa mais intervenção
governamental e cooperação no curto prazo, mais do que os contribuintes,
políticos ou na verdade os jornais do mercado livre normalmente gostariam ".
[1]
Nós fomos presenteados anteriormente com sermões semelhantes do
presidente George W. Bush. Ele disse na sua intervenção na televisão há duas
semanas que normalmente e instintivamente ele é crente e apoiante
apaixonado do mercado livre, mas sob as actuais circunstâncias excepcionais
ele deve pensar em outros caminhos. Ele deve começar a pensar sob estas
difíceis circunstâncias, ponto final. Você não pode dizer que não foi advertido.
As somas envolvidas na recomendada solução "pragmática", as quais
advogam varrer para o lado as "preferências normais" dos "contribuintes e
jornais do mercado livre " (isto é, da solução agora defendida a qual significa,
na verdade, a necessária submissão das grandes massas do povo a fardos
fiscais crescentes, mais cedo ou mais tarde) são literalmente astronómicas.
Para citar The Economist mais uma vez: "em pouco mais de três semanas o
governo da América, como foi dito, expandiu seu passivo bruto em mais de
US$1 milhão de milhões – quase o dobro do custo da guerra do Iraque até
agora " [2] "Bancos americanos e europeus perderão cerca de US$10 milhões
de milhões". [3] "Mas a história ensina uma lição importante: que as grandes
crises bancárias são essencialmente resolvidas pelo lançamento de grandes
blocos de dinheiro público" [4] .
5
Dezenas de milhões de milhões de dinheiro público "dado", e justificado em
nome da alegada "importante lição da história", e naturalmente ao serviço da
incontestável boa causa de salvar o sistema, isto é certamente um bloco muito
grande. Nenhum vendedor ambulante de gelados poderia alguma vez sonhar
com tais blocos. E se acrescentarmos àquela grandeza o facto citado na
mesma página da revista de Londres, que só no decorrer do ano passado "o
índice de preços dos alimentos de The Economist saltou aproximadamente
55%" [5] e "A alta dos preços dos alimentos no fim de 2007 e princípio de 2008
provocou tumultos em uns 30 países" [6] , nesse caso o bloco em causa tornase
ainda mais revelador quanto à natureza do sistema que agora se encontra,
ele próprio, numa crise sempre a aprofundar-se.
Pode alguém pensar numa maior acusação para um sistema de produção
económica e reprodução social pretensamente inultrapassável do que esta de
que – no máximo do seu poder produtivo – está a produzir uma crise alimentar
global, e o sofrimento dos incontáveis milhões inseparáveis disto por todo o
mundo? Esta é a natureza do sistema que se espera salvar agora a todo
custo, incluindo a actual "repartição" do seu custo astronómico.
Como pode alguém ter algum senso tangível de todos os milhões de milhões
desperdiçados? Uma vez que estamos a falar acerca de grandezas
astronómicas, pus esta pergunta a um amigo que é professor de Astrofísica na
Universidade de Londres. A sua resposta foi que eu deveria assinalar que um
milhão de milhões (trillion) apenas é aproximadamente uma centena de vezes
a idade do nosso universo. Agora, na escala da mesma grandeza, o número
oficial habitualmente subestimado da dívida americana, por si própria, monta
nos nossos dias a mais de 10 milhões de milhões. Isto é, um milhar de vezes a
idade do nosso universo.
Mas deixem-me citar-vos um curto trecho de uma publicação japonesa. Lê-se
isto:
"Quanto dinheiro especulativo está a movimentar-se pelo mundo? Segundo
uma análise da Mitsubishi UFJ Securities, a dimensão da "economia real"
global, na qual bens e serviços são produzidos e comercializados, é estimada
em US$48,1 milhões de milhões... Por outro lado, a dimensão da 'economia
financeira' global, o montante total de acções, títulos e depósitos, eleva-se a
US$151,8 milhões de milhões. Portanto, a economia financeira inchou mais de
três vezes relativamente à dimensão da economia real, crescendo
rapidamente durante as últimas duas décadas. O fosso é tão grande quanto
US$100 milhões de milhões. Um analista envolvido nesta estimativa disse que
cerca da metade deste montante, US$50 milhões de milhões, mal é
necessário para a economia real. Cinquenta milhões de milhões de dólares
valem bem mais de 5000 milhões de milhões de yen, um número demasiado
grande para eu realmente compreender". [7]
Na verdade é mesmo muito difícil compreender, quanto mais justificar, como
fazem os nossos políticos e banqueiros apologistas do capital, as somas
6
astronómicas de especulação parasitária acumulada numa grandeza
correspondente a 500 mil vezes a idade do nosso universo. Se quiser uma
outra medida sobre a grandeza em causa, imagine apenas um infeliz
contabilista dos tempos romanos, a quem fosse pedido nada mais do que
simplesmente escrever no seu quadro negro o número de 5000 milhões de
milhões de yen em algarismos romanos. Ele cairia em desespero total.
Simplesmente não poderia fazer isso. E mesmo que tivesse à sua disposição
algarismos arábicos, os quais não poderia ter tido, mesmo neste caso
precisaria 17 zeros após o número 5 a fim de registar a cifra em causa.
O perturbante, contudo, é que os nossos políticos e banqueiros endinheirados
parecem pensar apenas nos zeros, e não nas suas ligações substantivas,
quando apresentam estes problemas para consumo público. E esta
abordagem provavelmente não pode funcionar indefinidamente. Pois é preciso
muito mais do que zeros para escapar do buraco sem fundo do endividamento
global a que estamos condenados pelo sistema que eles agora querem salvar
a todo custo.
Na realidade, a recente popularidade de Gordon Brown tem uma grande
relação com zeros em mais de uma forma. A sua espantosa nova
popularidade – que, bem pensado, pode acabar por ser um tanto efémera – foi
demonstrada na semana passada pela manchete de primeira página: "From
Zero to Hero" ("De zero a herói"). O artigo em questão sugeria que o nosso
primeiro-ministro realmente teve êxito em "salvar o sistema". Aqui está como
ele ganhou a grande aclamação.
NACIONALIZAÇÃO DA BANCARROTA CAPITALISTA
A razão porque ele foi louvado desse modo, como um herói, foi ter inventado
uma nova variedade de nacionalização da bancarrota capitalista, a ser
adoptada com imperturbável "consciência de mercado livre" também por
outros países. Aquilo fez até mesmo com que George W. Bush se sentisse
menos culpado por actuar contra o seu auto-proclamado "instinto apaixonado"
quando nacionalizou um enorme "bloco" da bancarrota capitalista estadounidenses
do qual um único ítem – os passivos das companhias hipotecárias
gigantes Fannie Mae e Freddie Mac – montavam a 5,4 milhões de milhões de
dólares (o que quer dizer, a soma necessária para 54 anos de execução da
guerra do Iraque).
A "novidade pragmática" – oposta "ao dogma e à política" nas palavras de The
Economist – da recente nacionalização da bancarrota capitalista pelo "New
Labour" é que os contribuintes obtiveram absolutamente nada (por outras
palavras, zero-zero-zero quantas vezes queira escrever, mesmo dezassete
vezes) pelas imensas somas de dinheiro investido em activos capitalistas
fracassados, incluindo nossos bancos britânicos nacionalizados a dois terços.
Esta espécie de nacionalização da bancarrota capitalista é algo diferente das
versões anteriores, instituídas após a Segunda Guerra Mundial quando a
7
"Cláusula 4" do Partido Trabalhista – a advogar o controle público dos meios
de produção – ainda fazia parte da sua Constituição. Pois em 1945 os
nacionalizados sectores em bancarrota da economia capitalista foram
transferidos para o controle do Estado, e enquanto durou foram
generosamente engordados outra vez a partir da tributação geral com o
objectivo da adequada "privatização" no devido momento.
Mesmo a nacionalização da Rolls Royce Company em 1971, sob o primeiroministro
conservador Edward Heath, seguiu o mesmo padrão embaraçoso de
nacionalização abertamente admitida e controlada pelo Estado. Nos nossos
dias, contudo, a beleza da solução de Gordon Brown é que remove o
embaraço enquanto multiplica muitas vezes os milhares de milhões
desperdiçados ao investir na bancarrota capitalista. Certamente ele merece
plenamente a sua promoção de "De zero a herói" bem como o máximo louvor
de "Salvador do mundo" que lhe foi conferida por alguns outros jornais, devido
à sua grande modéstia de ficar satisfeito com o zero absoluto em troca dos
nossos – não dos seus – milhares de milhões generosamente dispensados.
Mas poderá esta espécie de remédio governamental ser considerada uma
solução perdurável para os nossos problemas mesmo em termos de curto
prazo, para não mencionar a sua necessária sustentabilidade a longo prazo?
Só os loucos poderiam acreditar nisso.
Na verdade, a recentes medidas adoptadas pelas nossas autoridades políticas
e financeiras apenas atenderam a um único aspecto da crise actual: a liquidez
dos bancos, das companhias de hipotecas e de seguros. E mesmo isso só
numa extensão muito limitada. Na realidade as enormes "dádivas de blocos"
não representam senão o pagamento dos depósitos, por assim dizer. Muito
mais será necessário também quanto a isto no futuro, como as perturbações
ainda em desdobramento no mundo dos mercados de acções continuam a
enfatizar.
Contudo, bem além do problema da liquidez , uma outra dimensão apenas da
crise financeira refere-se à quase catastrófica insolvência dos bancos e das
companhias de seguros. Este facto torna-se claro quando os seus passivos
assumidos especulativamente e irresponsavelmente, mas nem por isso menos
existentes, são realmente levados em conta. Para dar apenas um exemplo:
dois dos nossos grandes bancos na Grã-Bretanha têm passivos que montam a
US$2,4 milhões de milhões cada um, adquiridos sob a suposição aventureira
de que eles nunca terão de ser cumpridos. Pode o estado capitalista salvá-los
com êxito com passivo dessa dimensão? Onde poderia o estado pedir dinheiro
emprestado com essa grandeza para a operação de resgate necessária para
tal finalidade? E o que seriam as necessárias consequências inflacionárias de
"repartir tais blocos" da operação de resgate verdadeiramente gigantesca ao
simplesmente imprimir o dinheiro requerido na ausência de outras soluções?
Além disso, os problemas não se esgotam de modo algum no perigoso estado
do sector financeiro. Pois de modo ainda mais intratável, também os sectores
8
produtivos da indústria capitalista estão com sérios problemas, pouco
importando quão altamente desenvolvida e favorecida eles possam parecer
estar através da sua posição de vantagem competitiva na hierarquia global do
capital transnacional. Devido ao nosso tempo limitado, devo limitar-me a um
exemplo, mas muito significativo. Refere-se à indústria automóvel dos Estados
Unidos, grandemente humilhada nos últimos anos, apesar de todos os
subsídios recebidos do mais poderoso estado capitalista no passado, que se
contam em muitos milhares de milhões de dólares.
Deixem-me citar de um artigo publicado sobre a Ford Corporation e suas
fantasias globalizantes em 1994, publicado no The Sunday Times. Foi assim
que os nossos distintos jornalistas financeiros pintaram naqueles tempos a sua
rósea pintura:
"A globalização plena está a ser tentada pelas multinacionais ... 'Isto é
definitivamente o bébé de Trotman, disse uma fonte americana. 'Ele tem uma
visão do futuro, a qual diz que, para ser um vencedor global, a Ford deve ser
uma corporação verdadeiramente global". Segundo Trotman, que disse a The
Sunday Times em Outubro de 1993, "Como a competição automotiva se torna
mais global ao entrarmos no próximo século, a pressão para descobrir
economias de escala tornar-se-á cada vez maior. Se, ao invés de fazer dois
motores de 500 mil unidades cada um, pudermos fazer um milhão de
unidades, então os custos são muito mais baixos. Em última análise haverá
um punhado de actores globais e o resto não estará ali ou estarão a lutar para
sobreviver'. Trotman e seus colegas concluíram que a plena globalização é o
caminho para bater competidores como os japoneses e, na Europa, o arquirival
da Ford, a General Motors, a qual mantém uma vantagem de custo sobre
a Ford. A Ford também acredita que precisa da globalização para capitalizar
em mercados emergentes no Extremo Oriente e na América Latina". [8]
Portanto, a "única" coisa que Alex Trotman – o britânico que era presidente da
Ford Corporation naquele tempo – se esqueceu de considerar, apesar da sua
impecável qualificação aritmética de saber a diferença entre 500 mil e 1
milhão, foi isto: o que acontece quando não podem vender o 1 milhão (e
muitas vezes mais) motores de carros, apesar da estrategicamente
contemplada e desfrutada vantagem de custo. No caso da Ford Corporation,
mesmo a maciça taxa de exploração diferencial que a companhia podia impor
à escala mundial como enorme companhia transnacional – isto é, pagar por
exactamente o mesmo trabalho 25 vezes menos aos trabalhadores da "Ford
Philippines Corporation", por exemplo, do que à sua força de trabalho nos
Estados Unidos da América – mesmo esta vantagem inquestionável não podia
ser considerada suficiente para assegurar uma saída desta contradição
fundamental.
É aqui que estamos hoje, não só no caso da gravemente humilhada Ford
Corporation como também no da General Motors, independentemente da sua
vantagem de custo outrora profundamente invejada até pela Ford Corporation
dos Estados Unidos.
9
Ao falar acerca de um acordo recentemente estabelecido que proporciona
subsídios do estado americano às companhias gigantes de automóveis do
país, eis como a infeliz situação actual da indústria automobilística estadounidense
é descrita num dos últimos números de The Economist: "o acordo
significa que as companhias de automóveis – abençoadas com a garantia do
governo – deveriam obter empréstimos com uma taxa de juro de cerca de 5%
ao invés dos 15% que enfrentariam no mercado aberto nas condições de
hoje". [9]
Contudo, nenhum montante de subsídio de qualquer espécie pode ser
considerado suficientemente satisfatório, porque as "Três grandes" – General
Motors, Ford e Chrysler – estão à beira da bancarrota, apesar do facto do
bébé de sonho de Trotsman ser agora um adolescente plenamente
desenvolvido. Portanto The Economist deve admitir que
"A partir do momento em que subsídios industriais como este começam a fluir,
é difícil pará-los. Um estudo recente do Cato Institute, um think-tank de
extrema direita, descobriu que o governo federal gastou cerca de US$92 mil
milhões a subsidiar negócios só em 2006. Deste total, apenas US$21 mil
milhões foram para agricultores, grande parte do resto foi para empresas como
a Boeing, a IBM e a General Electric na forma de apoio de crédito à
exportação e vários subsídios de investigação.
Os Três grandes já se queixam de que levará demasiado tempo repartir o
dinheiro [do estado], e querem acelerar o processo. Também querem outros
US$25 mil milhões, possivelmente ligados à segunda versão da lei de resgate
da Wall Street. A lógica do salvamento da Wall Street é que as finanças
servem de base para tudo. Detroit não pode começar a fazer tal reivindicação.
Mas, se o seu lobbying tiver êxito, será que demorará muito para que
companhias de aviação aflitas e retalhistas fracassados se juntem à fila?" [10]
A imensa expansão especulativa do aventureirismo financeiro, especialmente
nas últimas três ou quatro décadas, é naturalmente inseparável do
aprofundamento da crise dos ramos produtivos da indústria e as resultantes
perturbações que se levantam com a absolutamente letárgica acumulação de
capital (e na verdade acumulação fracassada) naquele campo produtivo da
actividade económica. Agora, inevitavelmente, também no domínio da
produção industrial a crise está a ficar muito pior.
Naturalmente, a consequência necessária da crise sempre em
aprofundamento nos ramos produtivos da "economia real", como eles agora
começam a chamá-la e a contrastar a economia produtiva com o
aventureirismo especulativo financeiro, é o crescimento do desemprego por
toda a parte numa escala assustadora, e a miséria humana a ele associada.
Esperar uma solução feliz para estes problemas vinda das operações de
resgate do estado capitalista seria uma grande ilusão.
Este é o contexto em que os nossos políticos deveriam realmente começar a
prestar atenção à afirmada "importante lição da história", ao invés de "distribuir
10
grandes blocos de dinheiro público" sob a pretensa "lição da história". Pois
como resultado do desenvolvimento histórico sob a regra do capital na sua
crise estrutural, na nossa própria época atingimos o ponto em que devemos
ser sujeitos ao impacto destrutivo de uma sempre a piorar simbiose entre a
estrutura legislativa do estado da nossa sociedade e o material produtivo bem
como da dimensão financeira da ordem reprodutiva societária estabelecida.
Compreensivelmente, aquele relacionamento simbiótico pode ser, e
frequentemente também acontece ser, administrado com práticas
absolutamente corruptas pelas personificações privilegiadas do capital, tanto
nos negócios como na política. Pois, não importa quão corruptas possam ser
tais práticas, elas estão plenamente em sintonia com os contra-valores
institucionalizados da ordem estabelecida. E – dentro da estrutura da simbiose
prevalecente entre o campo económico e as práticas políticas dominantes –
eles são legalmente bastante permissíveis, graças ao mais dúbio e muitas
vezes mesmo claramente anti-democrático papel facilitador da selva legislativa
impenetrável proporcionada pelo estado também no domínio financeiro.
A fraudulência, numa grande variedade das suas formas práticas, é a
normalidade do capital. As suas manifestações extremamente destrutivas não
estão de modo algum confinadas à operação do complexo militar-industrial.
Nesta altura o papel directo do estado capitalista no mundo parasitário das
finanças é não só fundamentalmente importante, em vista da sua grandeza
que tudo permeia, como tivemos de descobrir com chocante clareza durante
as últimas semanas, mas também potencialmente catastrófico.
O facto embaraçoso é que companhias hipotecárias gigantes dos EUA, como
a Fannie Mae e o Freddie Mac, foram corruptamente apoiadas e
generosamente abastecidas com garantias altamente lucrativas mas
totalmente imerecidas pela selva legislativa do Estado americano em primeiro
lugar, bem como através de serviços pessoais de corrupção política não
punida. Na verdade, a cada vez mais densa selva legislativa do estado
capitalista passa por ser o legitimador "democrático" da fraudulência
institucionalizada nas nossas sociedades. Os editores e jornalistas de The
Economist estão de facto perfeitamente familiarizados com as práticas
corruptas pelas quais, no caso das companhias hipotecárias gigantes
americanas, receberam do seu estado tratamento descaradamente
preferencial [aqui cito The Economist ]
"permitiu à Fannie e ao Freddie operarem com minúsculos montantes de
capital. Os dois grupos tinham núcleos de capital (como definido pelo seu
regulador) de US$83,2 mil milhões no fim de 2007, isto suportava US$5,2
milhões de milhões de dívidas e garantias, um rácio de alavancagem de 65
para um. [!!!] Segundo a CreditSights, um grupo de investigação, a Fannie e o
Freddie foram contrapartes em valores de US$2,3 milhões de milhões de
transacções com derivativos, relacionadas com as suas actividades de
hedging. Nunca seria permitido a um banco privado ter um balanço tão
altamente alavancado, [11] nem isto o qualificaria para a máxima classificação
11
de crédito AAA. ... Eles utilizaram o seu financiamento barato na compra de
activos de rendimento mais alto. [12]
[Além disso,] Com tanto em jogo, não é de admirar que as companhias tenham
construído uma formidável máquina de lobbying. Foram dados empregos a expolíticos.
Os críticos podiam esperar uma cavalgada robusta. As companhias
não temiam morder as mãos que as alimentavam". [13]
Não temer "morder as mãos que as alimentavam" refere-se, naturalmente, ao
corpo legislativo do estado americano. Mas por que deveriam elas ter medo?
Pois companhias tão gigantescas constituem uma simbiose total com o estado
capitalista. Isto é um relacionamento que corruptamente se reafirma também
em termos do pessoal envolvido, através do acto de contratar políticos que
poderiam servi-los preferencialmente, com um impressionante "rácio de
alavancagem de 65 para um" e a associada classificação de crédito AAA,
mesmo de acordo com a relutante confissão de The Economist.
A gravidade da presente situação é sublinhada de um modo característico pela
circunstância relatada nestas palavras por The Economist: " traders no
mercado de credit-default swaps recentemente começaram a fazer apostas
sobre o impensável: que a América pode incumprir a sua dívida " [14] .
Naturalmente, os referidos traders reagem mesmo a eventos de tal carácter e
gravidade como os que experimentamos hoje da única maneira possível: a
espremer lucro disto.
O INCUMPRIMENTO DOS EUA NÃO É IMPENSÁVEL
O grande problema para o sistema capitalista global é, contudo, que o
incumprimento da América não é de todo impensável. Pelo contrário, ele é – e
tem sido desde há muito – uma certeza que se aproxima. Foi por isso que
escrevi há muitos anos (em 1995, para ser preciso que:
"Num mundo de insegurança financeira nada se adequa melhor à prática de
jogar com somas astronómicas e criminosamente não seguradas nas bolsas
de valores do mundo – prenunciando um tremor de terra de magnitude 9 ou 10
na "Escala de Richter" Financeira – do que chamar as empresas que se
dedicam a tais jogos " Securities Management"; ... Quando exactamente e de
que forma – pode haver muitas variedades, mais ou menos brutais – os EUA
incumprirão a sua dívida astronómica não se pode ver neste momento. Só
pode haver duas certezas a este respeito. A primeira é que a inevitabilidade do
incumprimento americano afectará profundamente toda a gente neste planeta.
E a segunda, que a posição de potência hegemónica preponderante dos EUA
continuará a ser afirmada de todas as formas, de modo a fazer o resto do
mundo pagar pela dívida americana por tanto tempo quanto seja capaz de
fazê-lo". [15]
Naturalmente, a condição agravada de hoje é que o resto do mundo – mesmo
com a historicamente muito irónica maciça contribuição chinesa para a
balança do Tesouro americano – é cada vez menos capaz de preencher o
"buraco negro" produzido numa escala sempre crescente pelo insaciável
12
apetite da América por financiamento da dívida, como demonstrado pelas
repercussões globais da recente crise hipotecária e bancária dos EUA. Esta
circunstância traz o necessário incumprimento da América, numa das
"variedades mais ou menos brutais", para muito mais perto.
A verdade desta matéria perturbante é que pode não haver caminho de saída
para estas contradições finalmente suicidas, as quais são inseparáveis do
imperativo da infindável expansão do capital, independentemente das
consequências – arbitrária e mistificadoramente confundido com crescimento
como tal – sem mudar radicalmente o nosso modo de reprodução social
metabólico através da adopção de práticas responsáveis e racionais muito
necessárias da única economia viável, [16] orientada pela necessidade
humana, ao invés do alienante, desumanizante e degradante lucro.
É aqui que o obstáculo esmagador das interdeterminações em causa própria
do capital devem ser confrontadas, não importa quão difícil isto deva ser sob
as condições prevalecentes. Pois a absolutamente necessária adopção e o
apropriado desenvolvimento futuro da única economia viável é inconcebível
sem a transformação radical da própria ordem socioeconómica e política
estabelecida.
Gordon Brown recentemente exprimiu o seu desgosto acerca do "capitalismo
sem peias", em nome da totalmente não especificada "regulação". Você pode
recordar que Gorbachev, também, queria uma espécie de capitalismo
regulado, sob o nome de "socialismo de mercado", e também deve saber o
que lhe aconteceu e à sua grotesca fantasia. Por outro lado, na expressão do
primeiro-ministro conservador britânico Edward Heath, há muito tempo atrás, o
mesmo pecado do "capitalismo sem restrições" era "a face inaceitável do
capitalismo". E apesar disso, o "capitalismo sem peias", apesar da sua "face
inaceitável", permaneceu todas estas décadas não só "aceitável" como – no
decorrer do seu novo desenvolvimento – tornou-se muito pior. Pois o
fundamento causal dos nossos problemas cada vez mais sérios não é a "face
inaceitável do capitalismo não regulamentado" mas a sua substância
destrutiva. É aquela substância opressora que deve resistir e anular todos os
esforços destinados a restringir o sistema do capital mesmo minimamente –
como, na verdade, realmente se verificou ao efectuar isso também na forma
de metamorfose, na Grã-Bretanha, do [partido] social-democrata "Old Labour"
no neoliberal "New Labour". Consequentemente, a fantasia periodicamente
renovada de regular o capitalismo de um modo estruturalmente significativo só
pode resultar numa tentativa de dar nós nos ventos.
Mas a última coisa de que hoje precisamos é de continuar a dar nós nos
ventos, quando temos de enfrentar a gravidade da crise estrutural do capital, a
qual exige a instituição de uma mudança sistémica radical. É revelador do
carácter incorrigível do sistema do capital que mesmo num momento como
este, quando a imensa grandeza da crise em desdobramento já não pode mais
ser negada pelos mais devotos apologistas ex officio do sistema – uma crise
13
descrita há poucos dias por nada menos que o vice-governador do Banco da
Inglaterra como a maior crise económica em toda a história humana – e nada
pode ser contemplado, para não dizer realmente feito, a fim de mudar os
defeitos fundamentais de uma ordem reprodutiva societária cada vez mais
destrutiva por parte daqueles que controlam as alavancas económicas e
políticas da nossa sociedade.
Em contraste com a recente iluminação do seu próprio vice, o governador do
Banco da Inglaterra, Mervyn King, não tinha quaisquer reservas acerca da
saúde do acarinhado sistema capitalista, nem teve ele a mínima antecipação
de uma crise a chegar quando louvou aos céus o livro de Martin Wolf,
apologético do capital, com o seu auto-complacente e peremptoriamente
assertivo título: Porque a globalização funciona. Ele considerou aquele livro
"uma devastadora crítica intelectual dos oponentes da globalização" e uma
"civilizada, sábia e optimista visão do nosso futuro económico e político". [17]
Agora, contudo, todos são forçados a terem pelo menos alguma preocupação
acerca da verdadeira natureza e das necessárias consequências destrutivas
da dogmaticamente saudada globalização capitalista.
Naturalmente, a minha própria atitude para com o livro de Wolf foi muito
diferente daquela de Mervyn King e outros que partilhavam os mesmos
interesses. Comentei na altura da sua publicação que
"o autor, que é o Comentador Chefe de Ciência Económica do Financial Times
de Londres, esquece-se de colocar a questão realmente importante: Para
quem ele funciona?, se é que funciona. Ele certamente funciona, por
enquanto, e de forma alguma tão bem, para os decisores do capital
transnacional, mas não para a esmagadora maioria da espécie humana que
deve sofrer as consequências. E nenhuma quantidade da "integração
jurisdicional" advogada pelo autor – isto é, em bom inglês, o controle directo
mais apertado dos "demasiados estados" deplorados por um punhado de
potências imperialistas, especialmente a maior delas – vai conseguir remediar
a situação. A globalização capitalista na realidade não funciona e não pode
funcionar. Pois ela não pode ultrapassar as contradições irreconciliáveis e os
antagonismos manifestos da crise global estrutural do sistema. A própria
globalização capitalista é a manifestação contraditória daquela crise, tentando
subverter o relacionamento causa/efeito numa vã tentativa de curar alguns
efeitos negativos por outros efeitos desejados que projecta, porque é
estruturalmente incapaz de tratar das suas causas ". [18]
Neste sentido, as recentes tentativas de conter os sintomas da crise que se
intensificam, pela cinicamente camuflada nacionalização de grandezas
astronómicas da bancarrota capitalista, através dos recursos do estado ainda
a serem inventados, só poderia sublinhar as determinações causais
antagónicas profundamente enraizadas da destrutividade do sistema
capitalista. Pois o que está fundamentalmente em causa hoje não é
simplesmente uma crise financeira maciça mas o potencial de auto-destruição
da humanidade neste momento do desenvolvimento histórico, tanto
militarmente como através da destruição em curso da natureza.
14
Apesar da manipulação concertada de taxas de juro e das recentes cimeiras
ocas dos países capitalistas dominantes, nada foi perduravelmente alcançado
com o "lançamento de gigantescos blocos de dinheiro" no buraco sem fundo
do "esmagado" mercado financeiro global. A "resposta global abrangente para
o fosso da confiança", como o desejo projectado de The Economist e dos seus
mestres, pertence ao mundo da (não tão pura) fantasia. Pois um dos maiores
fracassos históricos do capital, como o há muito estabelecido modo de
controle social metabólico, é a contínua predominância dos estados-nação
potencialmente mais agressivos, e a impossibilidade de instituir o estado do
sistema do capital como tal na base dos antagonismos estruturalmente
arraigados do sistema do capital.
Imaginar que dentro da estrutura de tais determinações causais antagonistas
possa ser encontrada uma solução harmoniosa permanente para o
aprofundamento da crise estrutural de um sistema de produção e de trocas
mais iníquo – o qual está agora empenhado activamente em produzir mesmo
uma crise alimentar global, por cima de todas as suas outras contradições
gritantes, incluindo a sempre mais difusa destruição da natureza –, sem
mesmo tentar remediar suas miseráveis iniquidades, é a pior espécie de
pensamento ilusório, beirando a irracionalidade total. Pois, autocontraditoriamente,
ele quer reter a ordem existente apesar das suas
necessárias iniquidades explosivas e antagonismos. E a chamada "integração
jurisdicional dos estados em demasia" sob uns poucos auto-indicados, ou um,
como advogado por alguns apologistas do capital, pode apenas sugerir a –
igualmente auto-contraditória – permanência da potencialmente suicida
dominação imperialista global.
Eis porque Marx é mais relevante hoje do que alguma vez já o foi. Pois apenas
uma mudança sistémica radical pode proporcionar a esperança historicamente
sustentável e a solução para o futuro. Notas
[1] Todas estas citações foram retiradas do mesmo editorial de The Economist, 11/Outubro/2008, p. 13.
[2] The Economist, 11 October 2008, special section, p. 3.
[3] Ibid.
[4] Ibid., p. 4.
[5] Ibid.
[6] Ibid., p. 6.
[7] Shii Kazuo in Japan Press Weekly, Special Issue, October 2008, p. 20.
[8] "Ford prepares for global revolution", by Andrew Lorenz and Jeff Randall. The Sunday Times, 27 March
1994, Section 3, p. 1.
[9] "A bail-out that passed. In the slipstream of Wall'street's woes, the Big Three land a huge subsidy." The
Economist, October 4th, 2008, p. 82.
[10] Ibid., p. 83.
[11] A Lehman Brothers, um dos principais private merchant banks, tem um rácio de alavancagem de 30
para 1. Isso é bastante mau.
[12] "Fannie Mae and Freddie Mac: End of illusions" , The Economist, July 19-25, 2008, p. 84.
[13] "A brief family history: Toxic fudge" , The Economist, July 19-25, 2008, p. 84.
[14] "Fannie Mae and Freddie Mac: End of illusions", The Economist, July 19-25, 2008, p. 85.
[15] "The Present Crisis", quoted from Part IV. of Beyond Capital (published in London in 1995), pp.962-3.
(In Spanish in Más allá del capital, Vadell Hermanos Editores , Caracas, 2001, pp. 1111-12.)
[16] Ver a este respeito: "Qualitative Growth in Utilization: The Only Viable Economy", Secção 9.5 do meu
livro, The Challenge and Burden of Historical Time , Monthly Review Press, New York, 2008, pp. 272-93.
(Publicado in Herramienta, Numbers 36 and 37.)
15
[17] Mervyn King's endorsement, on the back cover of Martin Wolf's book, Why Globalization Works , Yale
University Press, 2004.
[18] In "Education - Beyond Capital", Opening Lecture delivered at the Fórum Mundial de Educação, Porto
Alegre, July 28, 2004. In Spanish reprinted in La educación más allá del capital , Siglo Veintiuno Editores /
Clacso Coediciones, Rio de Janeiro, 2008. Ver também o capítulo: "Why Capitalist Globalization Cannot
Work?" no meu livro, The Challenge and Burden of Historical Time, Monthly Review Press, New York,
2008, pp. 380-398; Spanish edition: El desafío y la carga del tiempo histórico, Vadell Hermanos Editores /
Clacso Coediciónes, Caracas, 2008, pp. 371-389.
[*] Palestra escrita para uma reunião em Conway Hall, Londres, a 21 de
Outubro de 2008. Os inter-títulos são da responsabilidade de
resistir.info.

Obama foi eleito para defender os interesses dos Estados Unidos!

Obama foi eleito para defender os interesses dos Estados Unidos!

Nota da Comissão Política Nacional do PCB




Após oito anos de domínio republicano, o povo norte-americano realizou um feito inédito: elegeu pela primeira em sua história um presidente negro, filho de pai africano e nascido fora do território continental dos Estados Unidos. Trata-se de um fato realmente histórico, levando-se em consideração que até meio século atrás o racismo era praticado nos Estados Unidos de modo muito semelhante ao que era realizado na África do Sul. Portanto, a eleição de Obama contém um simbolismo especial e representa um enorme desejo de mudanças por parte do povo dos Estados Unidos.

Nesse sentido, é natural que a eleição de um presidente negro num país racista desperte simpatia em todo o mundo. Nos Estados Unidos, com a possibilidade de derrotar o setor mais reacionário, belicista e parasitário do País, a eleição despertou enormes contingentes para a política e uma mobilização expressiva, especialmente dos jovens. O comparecimento às urnas, que variava desde a década de 70 até a última eleição entre 49% e 56%, desta vez aumentou para 64,1%, o maior índice de todos os tempos na história norte-americana. Era visível na população o desejo de mudança, mas também era claro que o sistema precisava de algo diferente para se legitimar, especialmente nestes tempos de crise.

Em todo o mundo, a grande maioria da opinião pública mundial, inclusive parte da esquerda, imagina que o novo presidente norte-americano representa uma mudança efetiva para os Estados Unidos e o mundo, fato que é estimulado pela euforia da mídia. Não está aqui em jogo a figura pessoal de Barack Obama ou suas convicções: o que as pessoas não devem se esquecer é que Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos para defender os interesses norte-americanos, é parte da institucionalidade bipartidária e do sistema imperial do grande capital e não terá liberdade para se contrapor aos interesses desse sistema.

Poderá realizar algumas mudanças tópicas internas; afinal, não é preciso fazer grande coisa para se diferenciar de um governo tão desastroso como o de Bush. Mas Obama manterá a essência do sistema imperialista. Vale lembrar que Obama fez a campanha mais cara da história dos EUA, gastando US$ 650 milhões, teve o apoio maciço das grandes corporações e da grande mídia norte-americana, sem o que não poderia ter arrecadado tanto dinheiro. Não terá liberdade para realizar um programa de mudanças e, com certeza, passada a euforia inicial, virá a decepção para o povo norte-americano e para todos os que hoje reproduzem a euforia da mídia.

É necessário enfatizar ainda que o staff da campanha do novo presidente é composto pela fina flor do sionismo e do capital financeiro, inclusive estes últimos responsáveis pela implantação das políticas monetaristas e neoliberais no passado, tais como Paul Volcker, ex-presidente do FED, nos anos Carter e Reagan; Jamie Dimon, presidente do Banco de Investimentos J. P. Morgan; Timothy Geithner, ex-gerente do FMI e presidente do FED de Nova York; Laurence Summers e Robert Rubin, ex-secretários do Tesouro de Clinton e, especialmente, Warren Buffett, o maior especulador do cassino financeiro mundial em bancarrota e Rahn Emanuel, futuro chefe da Casa Civil e sionista fundamentalista, que serviu no Exército e na Inteligência de Israel.

Só os ingênuos poderiam acreditar que com gente desse naipe haverá mudanças de fundo nos Estados e no mundo. Vale lembrar ainda que a cor da pessoa não quer dizer nada, em termos políticos. A principal figura do governo Bush é negra e ultradireitista, Condolezza Rice. Quem comandou a invasão ao Iraque e mentiu sobre as armas de destruição em massa era também um negro, o secretário de Defesa Colin Powell, que por sinal apoiou Obama nestas eleições. Além disso, a burguesia que explora os trabalhadores na África é quase toda negra. Portanto, não é a cor da pele ou a etnia que definem a posição política das pessoas.

O PCB acredita que não é hora de vender ilusões para os trabalhadores ou tentar mascarar a realidade: Obama não vai realizar um governo com os sindicatos, os movimentos sociais, com os negros, os latino-americanos ou com os oprimidos em geral. Ele foi eleito em circunstâncias muito especiais, quando o sistema necessitava de um político que desse a impressão de um capitalismo com rosto humano. Mas será obrigado a defender essencialmente os interesses do sistema que o elegeu. Deverá cumprir papel semelhante ao que o líder operário Lula está cumprindo no Brasil. Aliás, é importante para o sistema ter alguém, neste momento, com capacidade de conter a indignação popular e o movimento de massas que vai emergir da crise, uma vez que os republicanos estavam completamente desmoralizados.

O novo presidente dos Estados Unidos deverá seguir com a mesma postura que caracterizou o seu mandato como senador. O próprio programa eleitoral de Obama não se difere substancialmente dos republicanos, não apresenta propostas no sentido de uma reestruturação da economia norte-americana para servir ao povo. Em seus discursos, Obama sempre procurou se colocar acima das classes; sua bandeira é a "América" e todos os valores que vêm com ela. Para os ingênuos, nunca é tarde lembrar que o novo presidente norte-americano representa o negro da classe média integrado ao sistema, muito longe das tradições de um Malcom X ou Luther King.

Por último, vale lembrar que a condição de democrata não significa um mundo de paz para a comunidade internacional. A tradição democrata é belicista, desde Woodrow Wilson, que invadiu o México, Panamá, República Dominicana e Haiti. Truman lançou as bombas atômicas contra Hiroshima e Nagasaki e Kennedy invadiu Cuba. Lyndon Johnson ampliou a guerra do Vietnã, invadiu o Cambodja e o Laos. Bill Clinton, invadiu a Yugoslávia e bombardeou várias vezes o Iraque e o próprio Obama apoiou a fascista "Lei Patriótica" do governo Bush. Todas essas atrocidades foram cometidas nos períodos de governos democratas. Quem garante que Obama não seguirá o mesmo caminho?

Para os comunistas, Obama venceu as eleições com expressiva votação, mas os trabalhadores dos Estados Unidos, representados pelos brancos, negros, latinos, asiáticos terão que lutar muito para conquistar suas reivindicações, pois as estruturas do sistema de poder continuarão brecando qualquer mudança de fundo na sociedade estadunidense. E os povos do mundo terão que continuar resistindo à agressividade do imperialismo, que pode inclusive recrudescer, com a crise do capitalismo.

PCB - Partido Comunista Brasileiro
Comissão Política Nacional
novembro de 2008

50º ANIVERSÁRIO DA REVOLUÇÃO CUBANA

50º ANIVERSÁRIO DA REVOLUÇÃO CUBANA




Revolución y cultura en Cuba (Roberto Fernández Retamar € La Habana)
La Revolución Cubana, que desde el 26 de julio de 1953 se había declarado, por boca de Fidel, orientada por José Martí, ha fortalecido tal filiación, sin abjurar de lo más vivo del marxismo, tan desfigurado en aquellos países, con los resultados que se conocen. Cintio Vitier escribió hace años que en Cuba está vigente un marxismo martiano, que ilumina la vida cultural del país.
PREMIO DE INVESTIGACIÓN CULTURAL A FERNÁNDEZ RETAMAR

Un militante de la cultura (Fernando Martínez Heredia € La Habana)
Ya no hablaré de Retamar el poeta. Habría que leer otro estudio sobre su poesía, tarea para otra voz más capaz y autorizada que la mía. Sí quiero decir que entre tantas actividades intelectuales diferentes que realiza este ensayista de raza, par de los primeros de la lengua, siempre se me ocurre ante todo llamarle poeta. Me parece que él mismo, si se viera obligado a calificarse con una sola palabra, diría poeta, aunque alguna vez aclaró que ama tanto la poesía como deplora lo "poético".

Un extraño equilibrio (Ambrosio Fornet € La Habana)
El triunfo de la Revolución tuvo para mí el carácter de un extraño equilibrio. A los latifundistas la Revolución les quitó sus tierras, pero a mí, en cambio, me devolvió la mía. El otro nexo de continuidad que me ofreció la Revolución triunfante fue con mi propia tradición cultural, que para mí incluía los nexos con "toda" la cultura, sin fronteras de tiempo ni de espacios.

El camino de la utopía (Fernando Martínez Heredia € La Habana)
La comprensión de la necesidad de un ámbito mundial para las estrategias y la utopía ‹y de la pertenencia a la América Nuestra del proceso cubano‹ han constituido avances culturales colosales, que permiten pensar de maneras nuevas. De la cultura acumulada por la humanidad viene el nombre para el mundo que nace: socialismo. Pero de las necesidades de hoy y la conciencia que existe surge la exigencia de que el socialismo del siglo XXI sea mucho más radical, incluyente, democrático, diverso y ambicioso que los que han existido.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Moção de Solidariedade - Partido Comunista Brasileiro

O Comitê Central do PCB vem a público manifestar seu repúdio ao massacre criminoso que está ocorrendo na Faixa de Gaza, promovido pelo Estado sionista de Israel que, sob o pretexto de combater o terrorismo, ataca pessoas indefesas, em sua grande maioria crianças e mulheres palestinas que moram na região, vítimas de bombas jogadas sobre casas, escolas e locais de trabalho. Tecnologias militares modernas são usadas covardemente contra um povo proibido de ter forças armadas convencionais e de obter armamento para se defender.

O governo israelense promove mais uma vez a tática de "ataques preventivos" tão propalada no Governo Bush, aumentando a violência contra o povo palestino que há décadas tem sua nação dividida e usurpada pela partilha imperialista de seu legítimo território e que, no caso da Faixa de Gaza, é palco de privações de todo o tipo, devido ao criminoso embargo promovido pelo governo israelense.

Os ataques ocorridos nesses últimos dias já mataram mais de 300 pessoas e deixaram mais de 1.000 feridos, muitos em estado grave. Parte da região está sem energia elétrica afetando o funcionamento de hospitais.

Pela dimensão do ataque e a generalização inescrupulosa do bombardeio, pode-se garantir que este já é um dos maiores genocídios praticados por armamento de guerra em tão pouco tempo nesse inicio de século. O terrorismo de Estado promovido pelo governo israelense, ao invés de por fim à crise na região, só a aprofunda.

O PCB condena veementemente a carnificina promovida pelo Estado sionista de Israel contra a população palestina e conclama as entidades e organizações populares, democráticas e antiimperialistas a se manifestarem em atos públicos em solidariedade ao povo palestino. Exige também do governo brasileiro que condene com firmeza a infame agressão que, se não for detida imediatamente, pode descambar numa invasão ao território palestino, não com objetivo de ocupação (que já existe na prática), mas de provocar o extermínio desse valoroso povo, que não se curva ao sionismo e ao imperialismo e que merece a mais irrestrita solidariedade dos povos do mundo todo.

Repúdio ao terrorismo do Estado de Israel!
Pela autodeterminação do Povo Palestino!
Pela criação do Estado da Palestina!

Rio de Janeiro, 29 de Dezembro de 2008
PCB- Partido Comunista Brasileiro

Canal de Péricles Vilela no You Tube